Escriba

viúva, com passado hippie, cabelo vermelho – agora pintado, outrora natural. todos os dias, na hora do café, pensava no marido falecido, que detestava sentar à mesa sozinho. era a solidão que ele detestava. ela aprendera a viver uma solidão a dois, que em nada se parecia com sua juventude woodstockiana. escolheu o passeio daquele feriado e achou estranho não ser obrigada a acordar cedo. dispensou o farto café da manhã da pousada. a fome que sentia era outra. ainda lhe restava tempo suficiente para desbravar o mundo. fazia calor. a viúva de alma jovem cantarola no caminho, enquanto admira a paisagem e tenta se equilibrar por sobre as pedras escorregadias. não caiu. colocou a máscara e o snorkel e riu de si mesma. mergulhou na água cristalina, se sentiu confortável na companhia dos animais. ficou por ali um tempo, desbravando cada canto das piscinas naturais. pensou em interagir com um grupo que se aproximava. desistiu. sentiu saudades do marido morto. ficou com fome. de café da manhã típico.

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